Por de trás das montanhas de Minas, uma cidade preserva seu casario colonial que reconta boa parte da história do Brasil. Três séculos separam o antigo Arraial do Carmo da cidade que hoje é patrimônio nacional. Uma história marcada por descobertas, sonhos de fortuna, pela força da fé e da arte. A história da fundação de Mariana, primeira cidade de Minas, está ligada a busca por ouro
No século XVII, os bandeirantes paulistas andavam por esta região a procura de riquezas. De Taubaté (SP), saiu uma expedição numa viagem que durou meses. De acordo com a história, em 16 de julho de 1696, as bandeiras chefiadas por Salvador Fernandes Furtado de Mendonça, acharam ouro num rio, que resolveram batizá-lo de Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo.
O vilarejo surgiu com a bandeira de Salvador Furtado. Às margens do ribeirão cresce um povoado. Os bandeirantes chegaram no dia de Nossa Senhora do Carmo. No período colonial, pela tradição portuguesa era comum se nomear os lugares associando uma imagem religiosa, rendendo homenagem ao santo do dia. Por isso, resolveram batizar o arraial de Nossa Senhora do Carmo. Dessa forma, começou a história que se confunde com Estado que nascia…
Em pouco tempo, o arraial cresceu. Se tornou um dos principais fornecedores de ouro para Portugal. Não demorou muito para se tornar a primeira vila, criada na capitania. Em 1745, por ordem do rei de Portugal, D. João V, a vila foi elevada a cidade com o nome de Mariana, em homenagem a esposa, que era a rainha Maria Ana D’Austria. Na mesma época se tornou sede do primeiro bispado de Minas. Mariana foi uma das primeiras cidades a ser projetadas no Brasil. “Isto se deveu, provavelmente, pelo fato do local ser centro religioso de Minas, além de seu valor estratégico, devendo ostentar a imagem que refletisse uma ordem social que desejava impor, digna do nome da rainha, bastante diferente do arraial decadente que se tornara Vila do Carmo, relatou a professora Cláudia Fonseca. Por isso, Mariana passou pela intervenção do projetista: o engenheiro militar, José Fernandes Alpoim.
A vila que se ergueu no passado, hoje é patrimônio nacional. A vila de Ribeirão do Carmo, dos primeiros anos, perdeu importância econômica com a decadência do ouro, mas, ganhou importância histórica. Fonseca assinala que esse crescimento do urbanismo colonial obedece a uma lógica do sistema de poder dos Portugueses, que exerciam controle sobre os seus habitantes.
Hoje, Mariana está distante a 110 km de Belo Horizonte, e dentro do Quadrilátero Ferrífero, região formada por municípios que tem a economia baseada na extração e beneficiamento de minério de ferro. Preserva um casario e as ladeiras, guardam traços da arquitetura colonial do século XVIII. A cultura possui as características específicas de uma sociedade movida pela fé. A cidade é visitada por turistas do mundo inteiro,em busca de uma viagem ao tempo do Brasil colônia.
A cidade tem vários pontos turísticos, sendo os principais:
• Praça de Minas Gerais – onde se encontram três monumentos históricos da cidade, a antiga Casa da Câmara e Cadeia , Igreja São Francisco de Assis e Igreja Nossa Senhora do Carmo .
• Catedral da Sé – uma das maiores igrejas da cidade e a mais importante, localizada na Praça da Sé, a praça principal da cidade e também um ponto turístico.
• Museu Arquidiocesano de Arte Sacra – funcionando na mais bela construção de Mariana e que possui umdos mais ricos acervos de arte sacra do Brasil.
• Museu da Música de Mariana – funciona no Centro cultural Dom Frei Manoel da Cruz (antigo Palácio dos Bispos). Único museu deste gênero na América, possui em seu acervo documentos, partituras, impressos dos séculos XVIII ao XX, além de uma exposição permanente em que o visitante não vê somente, mas sente a música.
• Prédio da Curia – Arquidiocese de Mariana.
• Rua Direita – onde se encontram as casas mais antigas da cidade, com sua arquitetura conservada.
• Antigo Seminário – atual campus do ICHS (unidade da UFOP).
• Seminário Maior São José – bela construção em estilo neoclássico, com ajulejos no frontispício e pinturas de Pietro Gentili e Nobäuer na capela e salões.
• Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
• Igreja de Santo Antônio – a mais antiga da cidade.
• Igreja de São Pedro dos Clérigos – com sua arquitetura belíssima.
• Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória – em Passagem de Mariana.
• Mina da Passagem – foi muito importante para a economia da cidade no ciclo do ouro.
Até o fim deste ano, a prefeitura de Mariana promete entregar à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) um dossiê em que pedirá o reconhecimento da cidade mais antiga de Minas Gerais, fundada em 1696 e hoje com aproximadamente 70 mil habitantes, como patrimônio histórico e cultural da humanidade, título já obtido pela vizinha Ouro Preto.
A aura da cidade é muito voltada para a cultura de raiz. E queremos colocar a cultura como uma necessidade essencial do povo. O povo deve ter o direito e o dever de praticá-la como elemento de raiz e identificação”, afirmou à Agência Brasil o prefeito Roque Camêllo.
Ainda dentro da campanha pró-reconhecimento da Unesco, a prefeitura demoliu um ginásio poliesportivo que fora construído em frente à Estação de Trem, na qual chega a Maria Fumaça de Ouro Preto, para erguer no espaço um centro de convenções com a arquitetura de uma antiga fábrica de tecidos que lá existiu. A obra está em andamento. “O ginásio foi um erro do poder público, porque era agressivo ao ambiente barroco daquela região”,
disse Camêllo. Mariana tem 13 igrejas ou capelas coloniais, museus de arte sacra e da música, este com partituras dos séculos 18 e 19. Continuam em atividade na cidade 13 bandas de músicas tradicionais, algumas com mais de 100 anos de história.
Confira a distância de Mariana a algumas localidades no país
Belo Horizonte – 112 km
Rio de Janeiro – 507 km
São Paulo – 709 km
Brasília – 869 km
Vitória – 429 km
Curitiba – 1.108 km
Porto Alegre – 1.521 km
Salvador – 1.478 km
Recife – 2.290 km
Natal – 2.656 km
Fortaleza – 2.554 km
Ouro Preto – 12 km
Itabirito – 57 km
Congonhas – 147 km
São João Del Rei – 225 km
Tiradentes – 267 km
Sabará – 132 km
Caeté 117 km
Caraça – 90 km
Nova Lima – 136 km
Santa Bárbara – 70 km
Diamantina – 430 km
Costume de esconder o prato de comida da inesperada visita já foi sinônimo de avareza
Houve tempo em que chamar de gaveteiro um habitante de Mariana e de outras cidades de Minas Gerais, ou de Itu, Campinas e Araras, em São Paulo, e Cuiabá, no Mato Grosso, era provocar briga. Significava acusá-lo de avarento. Recebiam esse apelido pejorativo os moradores de cidades que teriam o costume de esconder o prato de comida na gaveta, quando chegava uma visita inesperada à hora da refeição. Assim, driblariam uma das leis sagradas da hospitalidade, que os obrigava convidar à mesa o forasteiro.
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